quarta-feira, 22 de maio de 2019

NUTRIÇÃO COERENTE

 Durante esses meus 30 anos de carreira profissional, desempenhando a função de Preparador Físico e já tendo trabalhado em 3 países (Líbano, Coréia do Sul e China), tenho observado com muita atenção como tem sido fundamental e imprescindível para o complexo processo de recuperação dos atletas, pós-treinos e jogos, a atuação conjunta da preparação física e nutrição.

 Sempre trabalho em conjunto à nutrição (sempre respeitando as tradições alimentares, independente do país) e quando o clube não dispõe de uma nutricionista, eu mesmo confecciono os cardápios e os acompanho em todas as concentrações.
 Eu pesquiso muito através da leitura e contato com profissionais da área da Nutrição sobre como aperfeiçoar o processo de recuperação dos atletas e esse trabalho é de fundamental importância para que, seguramente, os mesmos possam sempre estar à disposição do técnico, mesmo inclusos em um calendário desumano aqui no Brasil, em relação à carga excessiva de viagens, jogos e pouco tempo de treinamento, gerando desgastes excessivos e cumulativos, com um consequente e exacerbado número de lesões.
 No livro da Dra. Gisela Savioli ('Alimente Bem Suas Emoções' - Edições Loyola - terceira edição), os famigerados Radicais Livres são citados através de uma pergunta: "Mocinhos ou bandidos?"
 Se o nosso corpo produz, é bom. O problema é o excesso ou a falta, pois nossas escolhas alimentares é que fazem toda a diferença e, para os atletas de futebol profissional, muito mais.
 A cada respiração produzimos radicais livres e eles têm um papel muito importante no sistema imunológico.






 Radicais livres são moléculas instáveis e que apresentam um elétron que tende a se associar de maneira rápida a outras moléculas de carga positiva, com as quais pode reagir ou oxidar.
 Em nosso organismo, os radicais livres são produzidos pelas células, durante o processo de queima de oxigênio utilizado para converter os nutrientes dos alimentos absorvidos em energia.
 Os radicais livres podem danificar células sadias do nosso corpo, entretanto, nosso organismo possui enzimas protetoras que reparam 99% dos danos causados pela oxidação, ou seja, nosso organismo consegue controlar o nível desses radicais livres produzidos através do nosso metabolismo.
 O cigarro, álcool e os aditivos químicos, hormônios, etc., presentes nos alimentos e bebidas, são fatores externos que podem contribuir para o aumento da formação dessas moléculas.
 A energia que todas as células produzem, vem das mitocôndrias, usinas de força presentes em quase todas as células, (sendo em umas, mais, e em outras, menos), que transformam a glicose que comemos e o ar que respiramos em energia, sendo elas, por exemplo, que mantém nossa temperatura constante em 36 graus.
 A única exceção são as hemácias, as células vermelhas do sangue, que não possuem mitocôndrias, por uma explicação muito simples: essas células transportam oxigênio para todo o corpo e, muito sábias, não quiseram perder tempo produzindo energia para si; por isso já nasceram com um estoque para 4 meses, que é o tempo de vida das células vermelhas do sangue.

 Quanto mais atividade têm as células de um órgão, mais mitocôndrias possuem. No Fígado, por exemplo, cada célula pode chegar a ter de mil a 2 mil mitocôndrias, chegando a ocupar 1/5 do seu volume.
 Nosso cérebro tem aproximadamente 100 bilhões de neurônios (células cerebrais) que processam simultaneamente um número imenso de informações locais e para o corpo, por isso é o órgão de maior gasto energético de todo o organismo e o primeiro que sofre quando há queda de energia.
 Quando nossas mitocôndrias não funcionam direito fornecendo energia para nossas células, começam os prejuízos na saúde.
 Nas células sadias saudáveis, as mitocôndrias produzem uma quantidade pequena de radicais livres para servir de munição para nosso sistema imune, mas quando temos muito cortisol (hormona corticosteróide da família dos esteróides, produzido pela parte superior da glândula supra-renal, no córtex supra-renal, porção fasciculada ou média, diretamente envolvido na resposta ao estresse), circulando por um excesso de estresse, há um bloqueio na entrada da glicose nas células cerebrais e portanto suas mitocôndrias ficam sem matéria prima para gerar energia.
 Aqui um grande problema tem início: as mitocôndrias que deveriam produzir muita energia a partir da glicose absorvida gerando poucos radicais livres, fazem exatamente o contrário. Sem energia adequada por falta de glicose, começam a produzir uma quantidade maior de radicais livres.
 Outro problema é que a energia produzida pelas mitocôndrias serve para equilibrar a entrada de cálcio nos neurônios, impedindo que as células cerebrais fiquem com acúmulo dele no seu interior, pois nessa situação ele se torna tóxico.


 Excesso de cálcio ataca as mitocôndrias, que em consequência, diminuem ainda mais a produção de energia.
 Esses radicais livres produzidos dentro das mitocôndrias, como estão em excesso, acabam escapando de dentro delas e vão atacar o núcleo dos neurônios, atingindo então o DNA, nosso código genético, que é o livro de receitas de todas as proteínas que nosso corpo tem que produzir.
 A partir daí, nossos neurônios não conseguem produzir todas as substâncias de que o cérebro precisa, dando início a uma degeneração dos circuitos cerebrais.
 Um dos reflexos dessas lesões são as fobias, quando as pessoas passam a ter um medo exagerado de coisas que antes nunca as tinham incomodado, como de entrar num elevador, trovões, etc.
 A partir do momento em que nosso DNA é atacado, em situações de grande estresse, essas informações arquivadas podem ser ativadas, fazendo vir à tona memórias dos medos.
 Mas, graças a Deus, nosso corpo tem uma capacidade de regeneração imensa e conta com seus próprios meios para se recuperar através da produção de proteínas regeneradoras.
 Essas proteínas agem principalmente quando estamos DORMINDO, na fase profunda do SONO e quando temos uma boa NUTRIÇÃO.
 Por isso a importância de uma alimentação rica em antioxidantes, que nos ajudam a combater os excessos de radicais livres.
 Vemos cada vez mais quanto a NUTRIÇÃO e o SONO possuem um papel determinante na vida de todos e principalmente dos atletas.
 Os atletas convivem constantemente com um controle alimentar mais rigoroso, mas que deve ser também flexível em alguns pontos, pois tenho observado e conversado muito com as nutricionistas nos clubes onde trabalho sobre a importância de uma ingesta prazeirosa por parte dos atletas, em todos os períodos reservados para a alimentação, principalmente nas concentrações e Pré- Temporada, onde todos estarão juntos por um período de tempo maior.
 As informações postadas acima sobre os radicais livres são importantes e bem simples de compreensão e, esse meu blog, possui varias postagens que enfocam a alimentação dos atletas, com exemplos de cardápios.
 Mas eu julgo de importância vital que os cardápios sejam bem diversificados e maleáveis, permitindo aos atletas a ingesta de alimentos e bebidas (exceção às alcoólicas), que se aproximem da sua natureza diária (vida familiar, comida caseira) ou seja, que os mesmos não fiquem reféns de cardápios engessados, preparados por profissionais da nutrição que visem apenas economia e repetições.

 Imaginem a disputa de um Campeonato Brasileiro, com 38 rodadas, onde os atletas são submetidos à 5 refeições diárias, contendo raras alterações nos cardápios. Impossível se conviver com uma situação dessa, pois com certeza a quantidade necessária dos alimentos ingeridos vai diminuir em demasia.
 Atualmente no Brasil muitos clubes chegam a realizar 70 partidas ou mais em uma temporada, com um período curto de Pré-Temporada, viagens constantes disputando diferentes competições simultaneamente com alternâncias climáticas e pouco tempo de recuperação entre os jogos, além de períodos de treinamentos específicos diminutos.
 Se a diversificação dos cardápios não for bem dinâmica, à ponto de despertar o desejo pelo sentar a mesa e saborear alimentos que irão suprir e nutrir à cada um, completando os estoques de glicogênio muscular e hepático, além de todas as demais demandas energéticas necessárias e responsáveis pelo perfeito e harmonioso funcionamento do organismo como um todo, problemas seríssimos ocorrerão, como a ingesta inadequada de alimentos fora de hora pelos atletas.
 Isso gera um inadequado quadro alimentar, que irá se traduzir em um enorme prejuízo quanto ao desempenho e recuperação de todos.

 Esse combustível necessário e ingerido pelos atletas, via alimentação, deve ser então saboreado prazerosamente e em alguns momentos certas regalias devem ser permitidas, como o degustar de uma coca cola no almoço na véspera do jogo por exemplo. Tenho sugerido muitas outras regalias, pois, entendo eu, que toda a energia consumida pelos atletas via treinamento ou jogo, deva ser reposta rapidamente, sendo isso realizado muito mais prazerosamente quando os mesmos se alimentam muito bem, mesmo que ingerindo certos alimentos não muito convencionais em relação ao programado normalmente pelas nutricionistas.
 Um outro aspecto observado por mim nas concentrações dos jogos quando do café da manhã, tem sido a nefasta obrigatoriedade de que todos os atletas se façam presentes.
 Eu entendo ser o café da manhã uma importante refeição, pois os atletas se alimentaram às 22 horas no dia anterior na ceia, dormem e gastam em média 60 kcal/hora durante o sono.
 Se o atleta dorme em média 8 horas, ele consumiu durante uma noite 480 kcal e seria importante que o mesmo levantasse pela manhã e tomasse o lanche, até porque o almoço no dia do jogo é servido entre 12 e 13 horas, dependendo do horário da partida.

 Mas aqui entra um aspecto bem simples e que levo muito em consideração. Como já foi mencionado acima, joga-se muito e os períodos reservados para um descanso mais prolongado são diminutos.

 Assim sendo, prefiro que os atletas aproveitem quando das concentrações dos jogos nos hotéis o período da manhã no dia do jogo para dormir até mais tarde e não tendo a obrigatoriedade de sua presença, mas deixando a mesma optativa no período do cafe da manhã.
 Os oriento à levar para o quarto do hotel, quando da ceia das 22 horas, algumas frutas, bolachas, pães, etc., para um consumo rápido caso acordem e queiram prolongar um pouco mais o sono em seguida.
 Muitas vezes, em meio à obrigatoriedade da presença no café da manhã, o atleta desce e, contrariado, apenas come uma pequena bolacha, em seguida retornando rapidamente ao quarto. Com essa atitude, o referido atleta, nem comeu direito e, com certeza, não vai voltar a desfrutar de um sono reparador, desperdiçando o alimento e o sono ao mesmo tempo.


 A ciência alimentar deve andar de mãos dadas à coerência, assim como todos os membros da Comissão Técnica devem realizar em perfeita harmonia um trabalho conjunto, visando um aprimoramento e crescimento Físico / Técnico, facilitando a assimilação Tática.














Walter Grassmann


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