sábado, 15 de fevereiro de 2014

A Arte da Adaptação - 2

Continuação... (para ler a primeira parte dessa postagem, clique aqui!)

   A Força é a capacidade neuromuscular de superar uma resistência externa e interna.

FORÇA MÁXIMA: Nomeada igualmente como força absoluta, depende das características biomecânicas de um movimento, como por exemplo a força de alavanca, o grau de participação dos grupos musculares e a magnitude de contração dos músculos envolvidos.

   Em acréscimo, a Força Máxima é também uma função da intensidade de um impulso, o qual dita o número de unidades motoras envolvidas e sua frequência.

FORÇA RÁPIDA (ou de Velocidade): se manifesta na capacidade de superar uma resistência com alta velocidade de contração muscular.

FORÇA DE RESISTÊNCIA: É a capacidade do organismo de resistir à fadiga durante trabalho de força prolongada.

   O trabalho de Transferência de Força foi o meu carro chefe (tenho aqui em meu blog uma postagem exclusiva sobre esse trabalho - clique aqui para conferir!). Como na China o período de Pré-Temporada é bem longo (90 dias + ou -), pude realizá-lo até duas vezes na mesma semana mas com variações quanto à sua sequência final (saltos e piques) ou mantendo os saltos e utilizando um trabalho de Resistência de Velocidade com um tempo de execução de até 40'', com os atletas sempre divididos em grupos respeitando suas devidas posições e em horários diferentes para que as orientações e controle dos movimentos em cada etapa do treinamento fossem ainda mais precisos.

   Com esses procedimentos adotados, quando o grupo dos Alas estava terminando, o grupo dos Zagueiros, por exemplo, estava chegando para realizar o devido trabalho de aquecimento; por conseguinte, os Alas, terminando o seu treino, eram direcionados para o trabalho de recuperação nas piscinas, e assim por diante.

   Além de todo esse controle, a hidratação dos atletas com o seu número reduzido, também era mais precisa, sendo esse um fator importantíssimo durante a execução de qualquer treinamento.

   Eu também sou um grande adepto dos treinamentos onde se englobe Força Máxima, Rápida e Resistência de Força em um mesmo sequencial de trabalho.

   Eu chamo esse trabalho de Sequencial Casado, onde pode-se usar a criatividade amalgamada à ciência para que os atletas realizem de forma controlada os vários tipos de Força simultaneamente, assim como acontece nas partidas.

   Os atletas são subdivididos em grupos respeitando as suas posições de origem, com cada grupo vestindo coletes de cores variadas.

   Geralmente utilizo 3 sequências diferentes e loco os atletas da seguinte forma em cada um deles:
  1. Trabalho de Força Máxima na academia, utilizando-se apenas alguns aparelhos para os membros inferiores: Panturrilhas - Quadríceps - Isquiotibiais - Adução - Abdução - Meio Agachamento ou Leg Press, com uma carga de 70% da máxima e em 2 séries no mesmo aparelho antes da mudança, com 8 a 10 repetições em um ritmo moderado de execução para o concêntrico e lento para o excêntrico (Observação: para os Adutores e Abdutores eu não realizo o teste de carga máxima, e apenas anoto e controlo o peso inicial utilizado pelos atletas para posterior acréscimo individual.).
  2. Campo reduzido com duração variando entre 6 e 8 minutos, e os atletas sendo orientados para variacões de 1, 2 toques e livre também (RITMO INTENSO COM A BOLA NÃO PARANDO).
  3. Trabalho tracionado localizado com ou sem o uso das bolas para cabeceios, devoluções, dribles, passes, etc (alternar as situações), e com períodos de execução entre 20 segundos ativo por 40 passivo, entre 4 a 6 séries.

   Todos os atletas passam por esses 3 sequenciais de 4 a 6 vezes, sempre com descanso entre cada sequencial de 2 minutos e, entre cada passagem completa, 4 minutos para a correta e necessária hidratação.

   Para os primeiros trabalhos da temporada, eu recomendo apenas 2 passagens iniciais como forma de adaptação, pois as dores musculares tardias (até 48 horas após a sessão de trabalho) se instalam principalmente nos Adutores, Isquiotibiais e Glúteos, sendo também sentidas na região Lombar.

   Eu utilizo também muitas outras variações que descrevo abaixo, mas que preferencialmente as agrupo após uma reunião com a Fisiologia e demais Preparadores para que possamos casar os melhores métodos.
  1. Transferência de Força (Meio Agachamento - Subida no Banco - Afundo)
  2. 300m (60 x 50m - 12 x 25m) ou 200m (4 x 50m - 8 x 25m) com intensidades entre 15 e 22 km/h.
  3. Circuito de campo contínuo (6 a 8 estações)
  4. Trabalho Tracionado Progressivo por 20 metros, em diversas situações como deslocamentos diagonais, arranque com saltos, descocamento contínuo, costas, deslocamentos laterais, etc.
  5. Trabalho Tracionado por 10 segundos, seguido de 4 a 6 saltos rápidos sobre barreiras entre 40 a 60cm e arranque em direções variadas com metragens variando entre 10 a 30 metros (vai e vem - contínuo - diagonais) e até com chute a gol.
  6. Saltos variados sobre as barreiras (4 a 6) entre 40 a 60cm e velocidade em metragens variando entre 15 e 30 metros, com e sem bola, podendo realizar dribles e arremates a gol.

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   Além da Força, outros trabalhos também foram adotados em nossas programações, mas sempre obedecendo uma íntima relação entre Volume e Intensidade (interdependência não muito respeitada pelos técnicos Asiáticos), mas que, com um jeitinho bem Brasileiro, pudemos adequar, alterando consideravelmente as cargas dos treinamentos diários.

   Como exemplo disso, eu posso citar o trabalho de Resistência de Velocidade (C C V V) ou 'Corrida Com Variação de Velocidade', pois aqui, mais do que nunca, o descanso entre as repetições em uma sessão de treino é muito importante e deve ser controlado, uma vez que o trabalho de "pouca" intensidade permite que, após os trabalhos de "alta" intensidade, os músculos mantenham a excitabilidade do Sistema Nervoso Central em nível suficientemente elevado.
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   Aqui está exemplificado a necessidade dos repousos ativos e passivos dentro de uma mesma atividade física.


   Quando eu falo em adaptações entre Asiáticos e Brasileiros quanto à forma de se trabalhar, é para que os ganhos provenientes desses ajustes sejam canalizados diretamente aos atletas, e que assim venhamos à diminuir, e muito, os casos de lesões por excesso de treinamento e, por conseguinte, permitir que os atletas desfrutem de melhorias crescentes e seguras com relação às suas performances nos treinos, o que lhes proporcionará evidentemente maiores participações em cada competição que o nosso clube estiver envolvido.





  Para finalizar, vou postar os resultados da Avaliação Física da Composição Corporal, realizada no ano de 2012, do Atleta e capitão da equipe sul-coreana do Daegu FC, Yoo Kyoung-Youl, nascido em 15 de Agosto de 1978 - 1.82 cm - Zagueiro.

Primeira Avaliação - dia 05 de Março de 2012

  • Peso Corporal - 85.2 kg
  • Massa Gorda - 13.40 kg
  • Massa Magra - 69.47 kg
  • Taxa de Gordura - 15.73%
Walter Grassmann conversando com o Atleta Yoo Kyoung-Youl, Zagueiro do Daegu FC.

Última Avaliação - dia 11 de Setembro de 2012

  • Peso Corporal - 90.0 kg
  • Massa Gorda - 11.67 kg
  • Massa Magra - 78.33 kg
  • Taxa de Gordura - 12.97%
   Esses dados só comprovam a evolução desse atleta, e com isso fica evidente que ele obteve melhores índices em termos de Força, Resistência e Potência de forma muito segura e com menores gastos energéticos, que lhe permitiram excelentes desempenhos na segunda melhor campanha desse querido clube sul-coreano em sua história.

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quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

A Arte da Adaptação

Time Libanês do Olympic Beirut FC
   Nas duas últimas temporadas, obtive o privilégio de trabalhar em dois países Asiáticos, as maravilhosas Coréia do Sul e China.

   Nas temporadas 2002/03/04 eu já havia angariado uma fabulosa experiência profissional e particular ao trabalhar no futebol Libanês. Para o meu crescimento profissional, essas passagens internacionais me descortinaram novos aspectos dentro da minha área de atuação, ou seja, a Preparação Física.

   Sendo eu um Preparador Físico Brasileiro com passagens por grandes clubes em meu país, pude participar de muitas competições simultâneas, além do que, sendo o Brasil um país com proporções continentais, as viagens são longas e extremamente cansativas, preocupando à todos com os desgastes provocados com as mesmas, somado ao desgaste que normalmente é advindo dos jogos.

Crioterapia realizada após os jogos na Coréia do Sul.
   Sempre adotei, em conjunto aos meus companheiros de Comissão Técnica (Fisiologista, Nutricionista, Fisioterapeutas, Médicos, Massagistas, companheiros de Preparação Física e Técnicos), programas de prevenção à lesões, bem como Atividades Regenerativas diversas pós-treinos e jogos devido a alta sobrecarga na intensidade das partidas, além, é claro, da quantidade exacerbada das mesmas.
   Um dos princípios básicos em que me atenho, é o de nunca levar os atletas a uma exaustão completa ao final de uma sessão de treinamentos, pois agindo assim todos poderão recuperar-se condizentemente para o próximo treino.

   Na Ásia, me deparei com um sistema de trabalho muito diferente do empregado no Brasil, principalmente porque o controle fisiológico não é executado com o rigor que eu estava acostumado em meu país, e o controle dos treinamentos é monitorado apenas pelo tempo compilado pelo cronômetro dos Técnicos e seus respectivos Auxiliares.

   Apesar de insuficiente, esse monitoramento ainda deixa lacunas em aberto quanto aos processos de controle da intensidade pela frequência cardíaca e distância (uso do GPS) ou até pelo Lactato (quando das paradas durante os treinos para tal mensuração).

Controlar sempre será imprescindível!
   Um outro fator importantíssimo que sempre fez parte da minha vida profissional (aqui na Ásia é ainda pouco realizado e acompanhado), é a realização de uma programação prévia dos trabalhos à serem realizados no referido mês, uma vez que apenas me deparei com programas semanais especificando apenas os treinos como Técnicos - Táticos ou Físicos, e não adentrando nos aspectos mais científicos e específicos dos mesmos.
   No início realmente não foi fácil para mim, uma vez que eu vinha de uma escola bem diferenciada à nível de Preparação Física, onde o Preparador Físico é muito mais exigido ao longo de toda uma temporada através da execução das Avaliações Físicas periódicas, dos trabalhos diários específicos, aquecimentos e regenerativos pós-treinos e jogos, além de também acompanhar de perto a alimentação do meus atletas em conjunto à Nutrição.

Almoço na cidade Chinesa de Hangzhou, com o Técnico Li Shobin e seu Auxiliar.
  Tanto na China quanto na Coréia do Sul nesta minha segunda temporada (2013), eu tive o privilégio de trabalhar com dois técnicos sensacionais que me permitiram opinar e participar mais incisivamente nas programações e suas respectivas execuções práticas, e, com isso, incorporar a ciência na prescrição dos treinos físicos, elaboração de trabalhos regenerativos mais diretos pós-treinos e jogos, além de também aplicar alguns testes que nos informavam sobre as reais condições dos nossos atletas.

   Em seu livro 'Periodização (Teoria e Metodologia do Treinamento)', o Dr. Bompa nos diz que "o Planejamento é a arte de empregar a ciência na estruturação de programas de treinamento.".

   Com essa abertura conquistada junto aos Técnicos Li shobin (Chinês) e Back (Sul Coreano), mediante o respeito às suas conceituações sobre os controles diários nos treinos e minhas opiniões mais científicas ministradas sempre que possível (e em doses homeopáticas no princípio), pude começar a elaborar e executar trabalhos de Força e comprovar na prática que, sem a mesma, nenhum trabalho no futebol é realizado com segurança e alto aproveitamento.
Da esquerda para a direita: Ex-Técnico da Seleção Sul Coreana na Copa do Mundo de 1994 nos Estados Unidos, Walter Grassmann e o Técnico do Daegu FC na temporada 2013, Coach Back.
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