sexta-feira, 2 de fevereiro de 2018

Jogo Físico

   Particularmente, eu prefiro criar instrumentos a partir de minhas experiências adquiridas nos diversos clubes pelos quais já trabalhei ao longo desses meus 30 anos de carreira profissional.


   Esse treinamento é mais um elaborado por mim, dentre tantos outros e o reputo como muito completo, pois envolve não apenas todas as qualidades técnicas e físicas desenvolvidas pelos atletas em campo, como também pode solicitar a participação  de vários membros da comissão técnica em conjunto, para não apenas monitorarem o trabalho, mas, principalmente, participarem dele ativamente nas orientações e cobranças, exatamente como acontece nos jogos oficiais.
   Aqui estão presentes a Resistência Aeróbia, quando das corridas intervaladas e dos períodos nos quais os atletas estiverem participando dos jogos em áreas reservadas (uma variação desse treino pode ser realizada à parte, sendo disputados jogos em campo reduzido com os atletas subdivididos em grupos de 4x4 / 3x3, em uma área colada ao espaço destinado ao jogo físico, por exemplo).
   Todos os atletas participam ao mesmo tempo deste treino e à cada 10' ou 15' no sequencial do jogo físico, todos se deslocam rapidamente e jogam em campos reduzidos, passando por variações quanto aos toques na bola (1 ou 2 vezes, parando ou não), em um período máximo de 5'. Ao final dos 5', todos devem hidratar-se bem e, após um descanso de 5', voltar para outra etapa de 10' à 15' no jogo físico. O trabalho com equipes definidas somente é realizado nesta área à parte, sendo que dentro do sequencial, o treino é totalmente individual.
   O jogo físico abrange fisicamente as duas metades do campo ou 2 partes com boas dimensões, onde de um lado o trabalho é realizado sem bolas e do outro com o uso das mesmas, mas sempre com as orientações e acompanhamento dos preparadores físicos, fisiologista, no lado sem bola para que não sejam realizadas repetições em excesso em determinadas estações (pode-se definir antecipadamente o numero das repetições para cada uma das estações ou padronizar um).

   Já no lado com a utilização das bolas, os atletas trabalharão individual ou coletivamente em grupos pequenos, formados aleatoriamente ou divididos por setores inteiros como ataque, defesa e meio campo, atuando entre si simulando situações reais de jogo. Aqui o técnico e seus respectivos auxiliares podem interagir e cobrar execuções de jogadas ensaiadas ou simplesmente orientar nos posicionamentos sem que os atletas parem a atividade.
  A Resistência Especial (Aeróbio - Anaeróbio) também é trabalhada, principalmente na realização de corridas com variações de velocidade (CCVV).
   A Força Especial (Força máxima, explosiva e resistência de força) como saltos verticais e horizontais (Pliometria), são executados e podem ser seguidos ou não por cabeceios como forma de uma variação de jogo (auxílio de um membro da comissão técnica), mas sem prejudicar o ritmo de execução.

   As sequências devem ser realizadas obedecendo um caráter bem dinâmico e não mecanizado nas execuções, retratando com fidelidade as ações desenvolvidas pelos atletas em uma partida oficial.
   Como opcionais, podem ser criados até sequenciais à parte para o trabalho tracionado (Resistência de força) 5"/ 10" em variações de deslocamentos ou estático, com ou sem bola, além de estações com pesos livres (8 à 12 quilos) para membros inferiores (1/2 agachamento unipodal com 6 à 10 repetições para cada MI em apoio estável ou instável) e para membros superiores, com o supino em apoio na bola suíça ou apoio estável com 20 repetições.
   A exemplo dos campos reduzidos, que são utilizados por 5' apenas, logo após os 10'/ 15' no jogo físico, pode-se realizar também esses dois trabalhos logo após o jogo físico, obedecendo o mesmo tempo de duração (5') e individualmente cada atleta define suas séries, realizando suas repetições (2 no máximo) e depois de um descanso (5') voltar ao jogo físico.
   Como o futebol está alicerçado sobre 3 pilares fundamentais como força/velocidade /resistência de velocidade, esse treino (jogo físico) é bem abrangente. A velocidade de movimento no futebol é realizada por todos os atletas ao longo de todo o jogo e como as corridas de curta duração (5 á 30 m) são uma constante nos 2 lados do sequencial (procurar realizar em velocidade máxima, entre 20 à 24 km/h) ou até mais, acima de 6.5 m/s.
   Essas são intensidades utilizadas com maior freqüência nos jogos e sendo assim, deve-se empregar corretamente a especificidade do jogo e seus respectivos valores nas sessões de treinamento.
O controle pelo GPS é fundamental, mas um preparador físico também pode mensurar a intensidade e passar para os atletas durante o treino. A resistência de velocidade pode ser incluída nos Rallys de jogo (30 / 40 m) por exemplo, que compõem o jogo físico (com e sem bola). Pode-se também realizá-la à parte em até no máximo 2 séries envolvendo metragens até 60m em constante mudanças de direção (com e sem bola), com intervalos de recuperação de 1:3 (3 vezes o tempo ativo para recuperação).

Execução
   A duração pode variar dependendo do período do macrociclo em que se está inserido, podendo-se até priorizar mais os fatores físicos ou técnicos, com a utilização da bola no setor físico também. As variáveis são inesgotáveis e em conjunto às informações coletadas junto ao departamento de análises de desempenho e estatísticas do clube, muitos outros dados podem ser acrescidos no desenvolver prático desse treinamento.
   Como experiência própria eu passei a adotar um tempo "máximo" de 50' (3 séries 15' ativos ou 4 a 5 séries 10' ativos), como um volume ativo total adequado, mais os períodos para pausas (recuperações 5' cada) e o aquecimento inicial 5', que podem oscilar entre 15'e 20'. No caso da utilização dos trabalhos à parte, como foram descritos acima (campos reduzidos, resistência de força, força máxima), em estações postadas à parte e com o trabalho realizado logo em seguida ao jogo físico, o tempo acrescido ao volume máximo ativo, seria em torno de 20 a 25', sendo 5' ativos para cada série, mais 5' de recuperação para se reiniciar o jogo físico.
   Uma sessão normal de treinamento dura em média de 75' à 90' inclusos os períodos de recuperação, em apenas um período do dia. Esse treino - Jogo Físico - estaria na média ou um pouco abaixo em relação ao volume total de uma sessão de treinamento diária, mas abrangendo simultaneamente todos os aparatos físicos e técnicos, respeitando a especificidade do treinamento.
   Um outro dado importante é com relação ao número de atletas participantes e eu recomendo no máximo 22 (pode ser realizado com menos), inclusos os goleiros, pois, com mais do que isso os espaços ficam muito limitados e o aproveitamento da qualidade técnica fica sensivelmente prejudicado. Se estamos simulando um jogo, precisamos respeitar a quantidade de atletas utilizada no mesmo.
   Os atletas, após um aquecimento que pode ser um joguinho em campo reduzido ou qualquer outra atividade bem dinâmica e descontraída, precedida de um período curto de um trabalho preventivo de lesões, já estarão aptos ao inicio do jogo físico.


   Se houver a necessidade de um tempo de recuperação para hidratação logo após esse período de aquecimento, 3' serão suficientes. Quando do início do Jogo Físico, todos movimentam-se à vontade por todo o sequencial, ocupando livremente todos os espaços com e sem bola, prestando atenção nas orientações dos membros da comissão técnica que estarão acompanhando o desempenho dos mesmos. Muitíssimo importante ter-se em mente que o fator Intensidade empregado em cada ação deve espelhar aqueles movimentos que são realizados por cada um deles, quando de suas participações durante uma partida oficial.
   As opções sao muito variadas, onde os mais de 1.200 gestos diferentes exercitados por cada atleta durante um jogo e que envolvem fatores físicos, técnico e emocionais, possam ser trabalhados separadamente e ao mesmo tempo fundindo-se ao longo de todo o treinamento.
Por exemplo: O atleta inicia trotando em direção ao lado sem bola e começa em ritmo intenso os saltos frontais nas barreiras, realizando um arranque - 15m - para o zig-zag, simulando um drible de corpo logo após ter saltado em uma disputa de bola pelo alto e ter corrido atrás do adversário, para retomar a posse de bola.

   Feito isso, esse atleta se desloca para o lado de campo com bola, onde depois de um trote de recuperação ou não, ele vai realizar dribles, cruzamentos, chutes a gol, etc, sempre visando a realização de tarefas executadas por ele mesmo, de forma direta e criativa, exatamente como as realiza nos jogos, sempre atento e com uma visão periférica aguçada.
   Nesse lado com bola, o técnico, seus respectivos auxiliares e o treinador de goleiros, irão orientar os atletas na execução das suas múltiplas funções, sem, contudo, desviar a atenção dos mesmos das atividades executadas.
   Uma explanação aos atletas antes do treinamento, sobre como poderão desfrutar desse treino (jogo) sem o adversário, será de grande valia, para que os mesmos sempre procurem transitar em todos os espaços e diversifiquem constantemente suas ações com e sem a utilização da bola, trazendo a realidade encontrada nos jogos para dentro dessa atividade.
   A Velocidade também é essencial nessas ações e até nas bolas paradas para cobranças de faltas e pênaltis, o tempo para efetuar tais ações deve ser rápido. Faltas e Pênaltis devem ser cobrados no máximo 2 vezes em caráter opcional, a cada sequencial de 10'ou 15' por atleta e não se pode ficar esperando a vez, mas tomar posição quando um dos 3 gols estiver disponível, ou seja, a percepção de jogo deve prevalecer.
   A Recuperação ativa durante cada bloco de duração (10'/15') durante o jogo físico, fica diretamente vinculada ao atleta, pois somente ele mesmo para se avaliar, podendo trotar lentamente e até caminhar, exatamente como o faz nos jogos, desde que respeite fidedignamente a sua postura em campo.

Monitoramento
   O uso do GPS é uma das alternativas ou equipamentos similares que coletem e armazenem todos os dados referentes aos múltiplos movimentos desenvolvidos individualmente pelos atletas, para posterior análise.
   E de posse desses dados e outras informações angariadas pelos membros da comissão técnica durante o jogo físico, os atletas sejam informados de seu respectivo desempenho, para que falhas, desatenções e muitas outras considerações técnicas sejam apresentadas e corrigidas.

  A filmagem completa desse treinamento também servirá para a orientação visual dos atletas, pois muitos são mais visuais do que auditivos, além do clube compilar um vasto acervo sobre diferentes treinamentos e acompanhar o aproveitamento físico e técnico de seus respectivos atletas.
  A coleta do Lactato Sangüíneo durante as paradas (recuperações) também é muito valida, para o aferir constante da intensidade desenvolvida pelos atletas nas execuções de seus movimentos e até o simples uso de monitores de freqüência cardíaca.
 Um fator importantíssimo e primordial nesse treinamento é a liberdade proporcionada aos atletas para realizarem suas movimentações com bola e mesmo sem, em grupos (por posições) ou individualmente, simulando sua atuação direta e clara, como se estivesses atuando oficialmente. Esse treinamento espelha fidedignamente a participação de todos os atletas, com a ausência do adversário, mas realizando a mais pura especificidade do treinamento, aquela que trás o jogo para dentro do seu habitat preparatório.
 Aqui com dinamismo, criatividade e liberdade, os atletas estarão participando de uma partida, executando a criação de jogadas e executando movimentos com seus respectivos instantes de recuperação, simulando o tempo inteiro suas ações e reações típicas desenvolvidas nos jogos.
  Eu sou muito analisador e criativo, utilizando a ciência como mola mestre dos meus trabalhos. Criar, analisar, controlar e aplicar na prática são verbos que conjugo diariamente em meu trabalho. Fundamental também é o trabalho em equipe, onde todos possam opinar e estar inseridos no processo diário dos treinamentos.

Walter Grassmann


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