Na velocidade fornecida à bola (no futebol são alcançadas velocidades acima de 100 km/h, o que corresponde a 27.8 m/s ou mais nas finalizações a gol) em que existe alta utilização do corpo, estará em vantagem o atleta que reagir mais rápido e cuja concentração, apesar da fadiga, for menos prejudicada.
Se um atleta possui tempo de reação 0.02s mais curto que o seu oponente, então, essa diferença de tempo corresponde à distância de 50 cm em um lançamento (considerando-se a velocidade de 90 km/h que é igual a 25 m/s) daí, pode-se observar no dia a dia do futebol, que justamente distancias como esta em centímetros podem definir resultados positivos ou negativos.
Atletas também com maior nível de performance caracterizam-se por possuir capacidade de concentração mais constante durante todo o tempo de jogo e, com isso, possuem um tempo de reação mais rápido.
A velocidade com a qual os atletas agem em todas as atividades em campo ( velocidade de reação), é influenciada por diferentes fatores, como: O tipo de reação, o sexo, a idade, a constituição, a motivação, os estados emocionais e de tensão psíquica, a intensidade do estímulo, o estado de treinamento, a capacidade de performance corporal, o período do dia, o estado de prontidão e a musculatura envolvida.
As reações são Simples, Complexa e de Escolha, sendo as simples compreendidas por movimentos que se caracterizam por pequenos movimentos de parte do corpo, como por exemplo, o digitar com os dedos ou artelhos.
Reações simples são influenciadas predominantemente pela hereditariedade, enquanto reações complexas e de escolha são influenciadas por fatores sociais, como por exemplo, o treinamento.
Por reação complexa entendem-se a que emprega partes do corpo ou a que realiza movimentos com todo o corpo, por exemplo, as saídas de até 5 m, movimentos curtos de saída a partir de diferentes posições combinadas com as exigências de coordenação em ações de rápida realização.
O tempo de reação pode ser melhorado a partir de reações escolhidas do que em reações simples, porque a um estímulo simples pode-se reagir de forma pré-programada, enquanto em reações com escolha a resposta só é programável após o intervalo de reação ter-se iniciado.
Em reações simples ( por exemplo: saída do sprint) há melhoria de 10% - 18%; já em reações complexas de escolha, como as que são típicas para atletas de futebol, alcançam-se melhorias ao redor de 30- 40%.
Além disso, há diferenças entre reações acústicas, ópticas e táteis, e para tanto, vou recorrer ao futebol Americano para mostrar como um atleta reage a um estímulo auditivo.
No futebol a reação óptica tem o papel mais importante, frequentemente, pois essas reações partem do comportamento de um companheiro de equipe ou de um adversário quando, por exemplo, é realizado um passe conjuntamente à aceleração do companheiro de equipe como chamada para uma tabela, um drible do adversário com posterior condução de bola etc.
Já os sinais acústicos, visam chamar a atenção do companheiro de equipe que está ao lado, em certas ocasiões, tem um caráter de comando ou de auxílio (“vai”- “chuta”- “é sua”- “pisa”- “minha”- “atrás”- “vira”- “cuidado”- “ladrão”- “gato”) e sempre nestes casos, o alerta ou chamado feito ao companheiro, é realizado com diferentes entonações de voz e não apenas quando do uso de palavras, mas também de gritos.
Os atletas mais experientes demonstram frequentemente a capacidade de previsão, pelos índices pouco notáveis de alteração da posição e redistribuição do movimento muscular, das próximas ações do adversário e reagem oportunamente a isto.
Nesses casos, ganha importância o conhecimento do adversário e de suas técnicas preferidas.
Além da concentração ligada à situação de jogo, a capacidade de reação depende, em grande parte, da motivação e do estado de prontidão dos atletas.
Mas vamos retornar à minha citação sobre um atleta da NFL, não um simples atleta, mas uma verdadeira lenda viva.
Estou falando de JERRY RICE, simplesmente o maior WIDE RECEIVER da história.
Ele atua em uma posição em que se utiliza o maior uso de força, para a execução dos arranques finais, rumo às vitórias.
Este magnífico atleta possui 1549 recepções na carreira, saindo da linha de scrimmage e recebendo a bola.
Nesta avaliação realizada por diversos cientistas em um estúdio coberto, Jerry Rice seria avaliado, saindo parado, para um poderoso arranque de 10 jardas (APROXIMADAMENTE 10 METROS – 1 JARDA = 0,9144 M).
Aqui, o intuito principal era comprovar na prática, utilizando-se um atleta de ponta em sua modalidade, que os atletas reagem mais rápido aos estímulos auditivos, em relação ao visuais.
O tempo de reação humano é em média 0.19s, e o tempo de reação de Jerry após um sinal auditivo sinalizando sua largada para um arranque de 10 jardas foi de 0.16s, ou seja, 15% mais rápido.
Apenas como comparação entre quadros estatísticos temos:
Tempo de reação motora simples com diferentes estímulos
Contingente Caráter do sinal Tempo de reação (s)
Desportistas Som 0,05 - 0,16
Luz 0,10 - 0,20
Não-desportistas Som 0,15 - 0,25 ou mais
Luz 0,20 - 0,35 ou mais
Em uma segunda tentativa, Jerry Rice alcançou o tempo de 0.13s, saindo da linha de 10 jardas, ou seja, ele é 0.06s mais rápido do que nossa habilidade natural para reagir.
Somente como uma forma de comparações, os cientistas dizem que existem vários tipos de raios e estimam que um raio dure em média 0.15s; interprete então a façanha da reação por sinal auditivo do nosso espetacular atleta Jerry Rice.
O cérebro então, envia a mensagem para o resto do corpo dele e o corpo começa o movimento.
O processo é diferente com os estímulos visuais, apesar de luz viajar 870 mil vezes mais rápido que o som, pois o cérebro tem que frear para processar a informação antes de mandar a mensagem de ação para o corpo.
Nós reagimos ao som 15% mais rápido do que reagimos à visão. Isso explica como Jerry Rice consegue sair da linha de 10 jardas como um raio.
Você tem a curiosidade de saber qual o outro motivo para tamanha reação rápida e precisa?
É muito simples: porque ele é simplesmente JERRY RICE , e apesar de ser tão veloz, ainda tem que burlar a marcação sobre si, pois um WIDE RECEIVER, tem que se livrar dos defensores adversários.
Em um futebol imensamente competitivo como o nosso, todas as formas de treinamentos que redundem em ganhos honestos, reais e práticos, devem ser utilizados e para tal, a especificidade desta atividade, deve ser notória.
Isso deve ser levado em consideração quando da realização dos trabalhos de aquecimento antes dos jogos, pois os mesmos devem ser bem dinâmicos, descontraídos e com ações e gestos que envolvam ações técnicas à que serão submetidos.
Tenho realizado um treinamento (citado abaixo) que retrata muito bem tudo o que aqui foi anunciado, mas tenho inúmeros outros que utilizo com muito sucesso.
Ele pode ser realizado em apenas 1/2 campo, ou utilizando-se o campo todo, com um número grande de atletas (grupo completo de profissionais).
Formato duas equipes e estipulo antecipadamente várias regras à serem obedecidas, tais como:
A - Quando a equipe de posse de bola, ultrapassar a linha de meio campo, não se pode mais recuar a mesma para o campo defensivo ( feito isso, perde-se a posse de bola imediatamente);
B - Os arremessos laterais serão feitos com os pés, no campo ofensivo e com as mãos no defensivo ( O erro é punido com a perda de posse de bola);
C - Somente no espaço que compreende o grande circulo (meio de campo), será possível a passagem da bola de um lado para o outro (defesa / ataque );
E - Os gols feitos de cabeça dentro da pequena área valem 2 gols e os feitos dentro da grande área 3 gols;
F - Para os chutes os valores são invertidos em relação às áreas;
G - Para os chutes de fora das áreas, os gols tem peso 4;
H - A equipe que anotar um gol de cabeça dentro da grande área, tem o direito de sair com a bola, recomeçando assim o jogo com seu respectivo goleiro;
Várias outras regras podem ser colocadas em prática para tornar o treinamento ainda mais competitivo, e o que é melhor, atingindo um dos seus objetivos principais que é a atenção redobrada por parte de todos os atletas, envolvendo o raciocínio rápido, a atenção, a concentração constante e o tempo de reação seja ele óptico, visual ou até pelo tato.
Mesmo estas que aqui estão podem e devem ser alteradas, pois com o passar do tempo, as regras são assimiladas e então acabam por perder o sentido da novidade, ficando todo o processo de reação comprometido.
Aqui todos irão fazer sinais aos companheiros ou irão gritar e até usar seus movimentos ou gestos corporais para alertá-los sobre as inúmeras regras impostas.
Algumas dessas regras à mais são:
1- As duas equipes deverão atuar com as mesmas cores de camisa;
2- No campo ofensivo somente pode-se dar 2 toques na bola (ultrapassou o limite, perde-se a posse da mesma imediatamente);
3- No campo defensivo pode-se dar até 3 toques na bola (ultrapassou, perde-se a posse da mesma);
4- No espaço que compreende o grande circulo (meio campo), os toques são liberados;
5- No campo ofensivo a bola não pode parar (parou, perde-se a posse da mesma imediatamente);
6- No campo defensivo, a bola pode parar, mas muito rapidamente (10 segundos);
7- Determina-se inicialmente que 1 atleta de cada equipe, estará livre para tocar à vontade na bola, tanto no campo defensivo, quanto na ofensivo, mas não poderá marcar gols;
8- Periodicamente, esses atletas podem ser substituídos, desde que toda sua equipe o saiba e não necessariamente o adversário. Se por acaso aparecerem 2 atletas tocando livremente na bola na mesma equipe, então será marcada uma penalidade máxima para o adversário;
9- Uma outra alternativa para que essas trocas, sejam mais constantes, é municiar esses 2 atletas com camisas que estarão seguras pelas mãos e bem visíveis por todos. A um comando ou de livre espontânea vontade, a camisa é passada à outro companheiro,
(somente eles estarão livres quanto aos toques na bola, mas se nesta troca a camisa cair no chão, então será anotada uma penalidade máxima para o adversário).
Pode-se também realizar esse treinamento, utilizando-se 3 equipes, sempre 2 jogando contra apenas 1, sendo que a equipe solitária, terá os toques na bola liberados e pode deixar a bola parar e as outras 2 equipes somente poderão dar 1 toque a mesma e não poderão deixá-la parar.
Todos nós reagimos à estes estímulos, mas se podemos proporcionar aos nossos atletas situações reais de jogo via treinamento que espontâneamente ou não lhes induza à reagir rápido e seguramente, então poderemos desfrutar de mais mecanismos para atingirmos o resultado que tanto buscamos.
Sou um profissional que gosta muito da leitura e de pesquisas e para tanto, algumas das informações aqui postadas, foram compiladas das seguintes fontes:
- LIVRO - FUTEBOL (Treinamento Desportivo de Alto Rendimento)
Antonio Carlos Gomes - Juvenilson de Souza
- LIVRO - FUTEBOL TOTAL (O treinamento Físico no Futebol )
Jürgen Weineck
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