terça-feira, 16 de janeiro de 2018

PRÉ-TEMPORADA: O Desafio Da Preparação Física


   A cada novo ano o período destinado para a realização da pré temporada, que engloba as avaliações fisiológicas, médicas e o desenvolvimento da  preparação física e técnica, via treinamentos, com o subseqüente período para a realização de jogos treinos e até alguns amistosos, está ficando mais reduzido e, com isso, as conseqüências nocivas de tão escasso tempo de preparação estão também aparecendo não apenas mais precocemente, mas o que é pior, com maior constância e gravidade.
   Haja visto o grande número de lesões vitimando os atletas em treinos e nos jogos, desfalcando suas equipes e trazendo prejuízos financeiros para os clubes já no início da temporada.


   A ocorrência de lesões é até um fato normal no futebol como em qualquer outra modalidade desportiva, uma vez que todos estão sujeitos à elas, haja visto a intensidade de todas as ações realizadas pelos atletas quando das disputas nos jogos e treinamentos. Não possuímos mecanismos para impedir a ocorrência de lesões mas podemos sim minimizá-las, utilizando-nos de todos os trabalhos preventivos e de recuperação após cada partida, além de todos os controles das cargas de treinamento e avaliações médicas e físicas periódicas.
   Mas quando nos deparamos com períodos insignificantes para a realização de toda uma preparação segura visando uma temporada abrangendo mais de 60 jogos, com disputas simultâneas de várias competições, mais de 10 meses de atividades entre jogos, treinos, viagens (o Brasil possui dimensões continentais), concentrações, e ainda temos que computar também a vida particular de cada um fora do clube, com toda a certeza, sempre chegamos as mesmas conclusões de anos passados, ou seja, todos sofrerão muito com lesões novamente.

   Então, qual é a medida mais acertada para que um período de no mínimo 30 dias seja estipulado anualmente, (06 janeiro até 06 de fevereiro, por exemplo), para a execução da pré-temporada?

   Que os nossos dirigentes, consultem seus membros de comissão técnica e ajustem o calendário anual do futebol Brasileiro de acordo com o período básico e altamente necessário de preparação do alicerce físico e técnico para o início seguro da atual temporada e continuidade da mesma.
   Após essa definição técnica interna definindo uma data para a realização desse período fundamental de preparação, tudo seria exposto à CBF para que mais ajustes fossem realizados dependendo das necessidades. 
   No ano de 2008 no Atlético Paranaense por exemplo, tivemos à nossa disposição um longo período de 5 dias para a realização da pré-temporada (no sexto dia já jogamos) visando o início do Campeonato Paranaense com todos os atletas retornando do período obrigatório de férias (30 dias), diretamente para uma internação de 23 DIAS, no espetacular Centro de Excelência do Caju (C.T. do Atlético Paranaense), de onde apenas sairiam para realizar as partidas oficiais e retornando logo em seguida.

   Como já prevíamos isto em 2007 (o Campeonato Brasileiro terminaria dia 06/12), antecipamos algumas das avaliações médicas e odontológicas para os últimos dias desta temporada que ora findava-se e, como sabíamos que o grupo de atletas não passaria por grandes mudanças, os orientamos para não cometerem excessos nas festas de final de ano (os atletas foram sensacionais e apresentaram-se muito bem para o início da pré-temporada 2008).


   Elaboramos, nós preparadores físicos, em conjunto à fisiologia (com meu grande e querido amigo PROF. DR. ANTONIO CARLOS GOMES), uma programação ampla e minuciosamente científica que, a princípio, abrangeria o período de 03/01/08 à 13/01/08 (03 à 07/01/08, apenas avaliações e trabalhos físicos), sendo o segundo período cumprido entre os dias 14/01/08 e 26/01/08, com uma quantidade  de trabalhos técnicos e táticos de grande volume (duração), realizados com o técnico e grande amigo NEY FRANCO, além de seus auxiliares, MOACYR e TICO.
   Este singelo exemplo de um micro período para a realização de uma pré-temporada vivenciada pela minha pessoa em conjunto com outros fantásticos e competentes profissionais é uma realidade brasileira.

   Hoje quando falamos em períodos entre 10 e 14 dias para a realização de uma pré-temporada em um grande clube brasileiro, temos realmente algo para se comemorar, pois os prazos são diminutos, mas as cobranças por resultados imediatos são ferozes.

   Passei por isso também no Guarani F. C. em 2009, clube da bela cidade de Campinas, no qual já trabalhei por 4 vezes. Foram 2 semanas de preparação visando o Campeonato Brasileiro da série B, mas com um enorme agravante: foi realizada uma mudança na ordem de 20 profissionais, com a conseqüente contratação de outros 20 durante este período preparatório.
   Tenho que ressaltar aqui o excelente trabalho que elaboramos e realizamos com meu espetacular amigo e fisiologista do clube, PROF. DR. MIGUEL DE ARRUDA, além é claro da competência do meu amigo e companheiro de preparação física, Prof. JOÃO GUILHERME CHIMINAZZO. 
   Nestes 2 casos em especial, o retrato final foi digno dos grandes campeões, pois no Clube Atlético Paranaense, apesar do vice campeonato Estadual, vencemos os 12 primeiros jogos e superamos a marca histórica do time de 1949 que angariou para o Atlético o apelido de FURACÃO, vencendo na época seus 11 primeiros jogos, ou seja, entramos para a história do clube.

   Já no Guarani F.C. fomos VICE-CAMPEÕES DO CAMPEONATO BRASILEIRO da série B e conquistamos o acesso à série A, permanecendo inclusive durante todo o transcorrer das 38 rodadas do campeonato entre os 4 primeiros classificados (G 4), grupo das equipes com acesso garantido para a temporada 2010 do Campeonato Brasileiro da série A. Em toda a História de Campeonatos Brasileiros somente o Corinthians e o Guarani conseguiram esta proeza.

   A importância de uma pré-temporada bem realizada é fundamental para a segurança dos atletas e um desempenho com muita regularidade por parte de todos, principalmente para o início das primeiras competições da temporada, pois em um prazo de mais ou menos 2 meses (8 jogos mais ou menos), todos os atletas entram no ritmo de competição e os ajustes se fazem com mais tranqüilidade e total segurança, aflorando o melhor nível técnico individual dos atletas e diminuindo lesões.
   As situações vivenciadas por mim acima citadas se passaram há muitos anos atrás, mas a realidade atual não se alterou em nada.  Obtive experiências completamente diferentes nos meus 5 anos trabalhando na Ásia (Coréia do Sul e China - 2012 à 2016) e até bem antes no Futebol Libanês nas temporadas 2002/03/04 quando participei de períodos preparatórios com durações de 2 meses e, especificamente na China, até mais longos.
   As possibilidades de mudanças no Brasil são remotas, mas os exemplos acima comprovam como nós, os preparadores físicos Brasileiros, somos competentes, dinâmicos, criativos e dotados de uma habilidade para adaptar-se às mais variadas situações.

Walter Grassmann


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